quarta-feira, 24 de março de 2010

Vai uma raspadinha aí?

À que podemos comparar nossa vida neste mundo? Segundo o monge Manzi, à um barco que parte na madrugada e que não deixa mais rastros. Fiquei inquieta quando ele me fez essa pergunta. Obviamente, não à mim em particular, mas à toda humanidade.

Logo comecei a pensar... à que posso comparar nossa vida, nossa experiência terrestre, nossos desejos e frustrações, nossas esperanças e lamentações? Como posso escolher apenas um objeto que terá em si o fardo de carregar todo peso da vida, da nossa existência? Bem, se Manzi escolheu um barco apressado, eu irei escolher algo mais construtivo, literalmente: para mim, a vida se compara à um pequeno baldinho de areia nas mãos de uma criança.

Antes que meus leitores achem que eu enlouquecí. Provavelmente estavam esperando que eu compararía a vida à uma guerra, à um penhasco, ou até à uma montanha-russa, afinal tenho textos referentes à esses três itens. Mas não dessas vezes vou escoler o bendito do baldinho de areia nas mãos de uma criança que ambiciona construir um castelo.

Bom, a criança nos representa: ela detém nossos sonhos, perspectivas e vivências. Ela definitivamente tem uma experiência terrestre, mas não se dá conta disso até que avô acabe deixando esta experiência. Ela chorará por três dias, mas depois se esquecerá que seu tempo aqui é limitado. Com um baldinho na mão olha para o mar, para o desconhecido, sem se dar conta da imensidão do mundo em que vive e de sua insignificância para tal grandeza. Sua maior preocupação é: como vou encher o baldinho?

É esse seu grande desejo... encher o baldinho. É isso que nós mais anseiamos. E depois de te-lo enchido até a boca, quer construir a primeira torre de seu castelo, e começar assim seu império. Poder, castelos de areia, uma raspadinha nas horas vagas... Não é exatamente isso que todos desejamos? Depois de muito fantasiar, chegam as frustrações. Talvez o mar, a imensidão da vida, leve uma das torres do castelo embora; ou quem sabe, todo nosso império. E nos vemos perdidos diante dessa derrota, e por mais queiramos uma raspadinha bem gelada, o vendedor já se foi deixando para trás a criança, que apenas tem um balde vazio na mão.

É assim que a esperança nasce, e cansada, com sede e calor, a criança resolve desistir de seu reinado: não vai mais contruir um castelo de areia, mas vai encher seu balde com conchinhas coloridas. Perfeito. Assim o mar não poderá tira-lás de mim, e eu estou me vingando: estou tirando dele suas pedrinhas preciosas coloridas. Depois de encher seu balde até a boca de conchinhas, a criança chega toda realizada em seu guarda-sol. Mostra para mãe a beleza de sua caçada, porém esta acaba com sua aventura: "Está na hora de ir embora, ja está tarde. O sol ja se pôs está tudo escuro. Me dê este balde para que eu possa lavá-lo e assim deixaremos a praia." Assim, a mãe devolve ao mar, à imensidão, o que lhe pertence. E tira da criança seu baldinho, levando-a para longe da praia: lamentação.

Agora você deve estar se perguntando, o que toda essa história tem a ver com o barco de Manzi?

Pois bem, a criança somos nós. Ela sente, vê, se interessa toma raspadinha e mais do que qualquer coisa, procura alguma coisa para fazer. O castelo de areia é aquilo que contruímos ao longo de nossas vidas; seria nossa carreira, nosso patrimônio. Queremos absoluto poder sobre ele. E quando o perdemos, ou ele se vê enfraquecido, entramos em desespero; assim como a criança, e culpamos céus e terra, ou no caso, o mar, pela nossa perda. Assim, depois de muito reclamar, resolvemos adotar um plano diferente. Em vão, porque no final do dia, ou da vida, quando começar a escurecer, teremos de deixar tudo para trás, e devolver à vida o que ela nos deu.

Agora, e o bendito do baldinho? Digamos que eu considero que se a felicidade é algo que nos enche, a tristeza é o que devemos preencher. A tristeza é a forma, a felicidade é o conteúdo. Temos de encher o baldinho para esquecer do vazio, e encher com conchinhas coloridas nossa tristeza. Assim ela se tornará simplesmente imperceptível: queremos mais é saber o que tem lá dentro. E a nossa maior preocupação é nunca deixar o baldinho ficar vazio. E é com essa felicidade que vamos contruindo nossa vida. Assim como a areia fez o castelo, a felicidade é o motor da humanidade para fazer alguma coisa, nem que seja vender raspadinha para crianças alienadas de sua experiência terrestre.


domingo, 21 de março de 2010

Ligue os pontos

Quando criança uma brincadeira muito popular era o tal do ligue os pontos. Confesso que sempre gostei daquele jogo engraçado, onde diversos pontinhos numerados se espalhavam pela folha em branco onde apenas una indicação era dada; "ligue-os do menor ao maior". Convenhamos que aquilo era quase una lei, uma ordem dogmatica que toda criança seguia religiosamente juntando cada pontinho até que a figura desejada pelo ditador do caderninho de desenho aparecesse. Era um racíossinio lógico até. Um, dois, três... E veja! Um adorável patinho!

Pois bem, o tempo foi passando... E apesar de ter aposentado meu pequeno caderno de desenho, vejo que a tal brincadeira continua um sucesso entre os adultos. Porém o processo é um pouco mais implícito. Veja só que interessante: Considere que cada pedaço de informação que você obtem seja um pontinho. Cada critica, casa fato... Esses são os primeiros pontos. Agora vamos aprofundando... Cada valor, cada moral, cada pedaçinho de certo ou errado que bombardeiam nossas mentes. Esses são os pontos mais altos, longes, quase impenetráveis.

Pronto! Hora da brincadeira! Ligue os pontos. Assim você terá uma opinião. E é exatamente isso que o "ditador do caderninho de desenho" quer que façamos. Que liguemos os pontos da forma que ele explicitou naquela ordem tão severa.

Ao final, qundo todos tivermos ligado os Pontinhos e formado a opinião que ele prescreveu, logo pensará: "que adoraveis patinhos!"