domingo, 23 de maio de 2010

Recaída - Parte 2

"Vamos dar um passeio?" Assim me disse o Delírio. "Vou te mostrar meu barato novo, chama-se Grandeza. Você vai se deslumbrar com esta substância nova"

Grande, grande, grande...
Cresce, vai, até alcançar as estrelas. Não, mais. Continua, até a via láctea, até outra dimensão.
Enche todo o vazio ao seu redor. Que não sobre nem um pedaço de nada, que não exista nada que não me preceba. Afinal, sou grande, gigante, imponente. Sou herói, sou vilão. Sou tudo. Sou imenso, sou imensidão.

Meu olhos não podiam mais entender o que estavam vendo, a cabeça rodava. Palavras bombardeavam minha existência violentamente. Eram tiros, acertando cada parte do meu corpo e denunciando minha fraqueza.
"ordinário", em cheio na minha boca.
"conformista", direto no meu estomago
"pequenino, insignificante, apenas mais um na imensa multidão" Pum, pum, pum. Até que a consciência atirou em meu coração.

Overdose de verdade. E meu êxtase chegou ao fim. O delírio saiu correndo ao ver a consciência e fui assim abandonado com os tiros que a velha rabugenta me dera. Descí do palco, caí das estrelas.


Mais uma história com meus amigos sr. Delírio e a sra. consciência.
Neste pequeno episódio me droguei com o que chamo de grandeza, ou pelo menos o que achamos ser a grandeza. Mas não é exatamente esta a sensação que temos quando nos sentimos "grandes"? Uma sensação eufórica, uma agitação interna; além é claro do grande prazer de se sentir indispensável. Até que nos tocamos que esta grandeza é uma mera alucinação, e que todo prazer se acompanha de uma enorme abstinência.

E como a sobriedade nos entedia, ser normal não é uma opção. Logo corremos ao nosso fornecedor mais próximo desta droga deliciosa e perigosa. Afinal, queremos ser grandes, grandes, grandes... maiores que o sol. E corremos para o Delírio, o maior safado que eu conheço.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Recaída

Aproximei-me do delírio.

Sussurrou no meu ouvido aquela palavra irresistível: "loucura".
Ah demônio, pare de me atormentar! Me provoca, me envolve, me seduz e sai correndo. Vai! Corre! Tua presença não é bem-vinda.
Gritou do fundo da sala uma provocação terrível: "adeus".
Não, não vá! Não me abandone aqui, seco e vazio. Me preenche mais uma última vez. Me leva daqui. Venha, e eu me rendo ao seu encanto. Fechei os olhos e assim foi.

Quando retornei desorientado, ouvi logo a provocação: "ingênuo".
Bateu a porta e foi embora de uma vez. O barulho atormentou a consciência, que logo veio tirar satisfação: "Você não consegue se segurar nem por um minuto?" Mas que vergonha, como fui ceder tão facilmente? A velha chata me encheu de censuras, e me convenceu a obedecê-la. Ficou com sono, afinal a idade já estava pesando demais na conciência. A porta bateu de novo; eu estava finalmente sozinho.

Resolví seguir os conselhos da rabugenta.
Porém quando estava me preparando para dormir, vi um vulto na janela.

Aproximei-me do delírio.