quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Grito de Guerra

Algo sem forma vem perturbar minha lembrança. É um sentimento estranho, vazio. E só me afeta ao me pegar desprevenida, pois passo o resto do dia de armadura. Há alguns meses eu a comprei, porém ela ainda não é minha. Agora que já tomei posse desta proteção, como posso ainda respirar o ar de sua falta?

As saudades estão no ar. São um gás que entra pela narina, pelos olhos, pela boca; penetra quando reconheço seu cheiro, seu rosto e seu sabor. Queima meu pulmão. Faz-me perder o ar. E assim chega ao coração.

De que servem as armaduras se não se é forte para lutar?

Hora de comprar uma bela espada, e encravar no peito do problema. Arrancar de meus ventrículos os germes contaminados. Purificar meu ar. Ir pra guerra de peito erguido, saudável e finalmente leve...

domingo, 11 de setembro de 2011

A Grande Questão.

Um viajante caminhava pelo deserto à procura de uma resposta. O ar seco e a longa caminha lhe fizeram esquecer qual era a pergunta que lhe tormentava, mas por alguma razão continuava a caminhar. Carregava consigo um pequeno frasco contendo uma solução, embora também não se lembrasse exatamente do que.
Cada passo se tornava mais difícil, e à medida que as pernas o levavam para frente, a memória ia ficando para trás. Até que em algum lugar no meio do nada, ele avistou um oásis.
O viajante pode finalmente desfrutar de um pouco de sombra, e dormiu logo que fechou os olhos.

Quando acordou já não sabia mais quem era, onde estava e principalmente o que estava fazendo sozinho no meio do nada. Avistou ao longe a silhueta de um homem montado num camelo. Avaliou a situação e decidiu que não importava qual a circunstância que o levara ao deserto, queria sair de lá. Avaliou o que poderia barganhar em troca do camelo, porém sua única posse era aquele pequeno frasco.
Acabou convencendo aquele homem a fazer negócio, e trocou o frasco pelo meio de transporte. Montou no animal e foi para longe daquele deserto, deixando a solução para trás.

E foi assim que perdeu-se a solução para a maior e esquecida questão da humanidade.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Papel

A página em branco me encara furiosa. Como posso não preenche-la depois de tanto tempo encarando-a? De certa forma entendo seu sentimento: Como posso estar ali, diante dela e ainda assim não ver absolutamente nada na minha frente? A página não é invisível, porém é de total irrelevância.

E mesmo se eu escrever algumas palavras no papel, mesmo se ele se tornar um pouco mais interessante... Quem irá lê-lo? Talvez ele seja solto ao vento sem que ninguém ouse pousar os olhos em cima daquelas palavras. Quem irá entendê-lo? Palavras soltas, incoerentes, incomunicáveis. Talvez aos olhos de uns sejam apenas seqüências de letras aleatórias.

A chuva pode chegar e molhar o que o vento levou, borrando as letras aleatórias e transformando as palavras em manchas tristes chorando sua tinta. O caos lava o sentido da escrita deixando tudo disforme para qualquer um que enxerga com os olhos.

Mas há quem prefira não enxergar, não tentar entender. Há aqueles que depois da chuva pegam o papel molhado e manchado de cinza, em tons de tristeza. Estendem ao sol para secar e encontram um novo sentido para aquele pedaço de nada manchado:

Lá vai o aviãozinho de papel, voando pelo céu.