domingo, 30 de agosto de 2009

Viciado vs Traficante

-Me dê 150g de sua mercadoria mais cara, mais pura, mais rara...
-Você que manda chefia, vai querer 150g do que?
-De felicidade.
-Ihh, essa ja saiu do mercado faz tempo chefe.
-Pago o preço que for, estou apodrecendo sem ela.
-Quem mandou experimentar... felicidade é a droga que mais vicia.
-Ela continua a ser produzida em algum lugar? Colômbia? México? Iria até Marte para conseguir mais uma dose.

-Ela é produzida dentro de seu coração, e é a mais pura, rara e que preço nenhum pode pagar.

Berço de Ouro

O tribunal estava silencioso. Todos haviam chegado: os jurados, advogados, e o próprio meritíssimo. A ré estava atrasada. De repente que se abrem as portas do tribunal e chega a acusada.
“- Desculpe-me seu juiz, tentei correr, mas minhas pernas são muito curtas, acabei não conseguindo chegar a tempo.
-Estás desculpada. Sente-se. Devemos prosseguir com este processo.”

A ré, senhora Mentira era acusada de caluniar o prefeito da cidade, senhor Vaidade. Seu advogado de defesa chamava-se senhor Verdade. O processo começou.
“-Isso é um absurdo! Eu?! Perdendo a compostura deste jeito? Isso é um absurdo. Repetia senhor Vaidade. Eu nunca cometeria uma desavença deste nível!
-Pois eu vi. Vi tudo.Respondeu a ré.
- Ah então que suba minha testemunha disse Vaidade. “Ela não viu nada”

Entrou o Amor. Todo largado, descabelado, rastejou até a cadeira para dar o testemunho. Usava um belo par de óculos, com as lentes mais grossas que um polegar.

- Jura dizer a verdade? Prosseguiu o juiz.
- Juro.
- Senhor Amor, o senhor viu alguma coisa? Interrogou Vaidade.
- Eu? Eu não vi nada.
- O senhor me viu cometendo tal delito?
- Não vi nada não. Disse a testemunha.
- Protesto! Disse o advogado de defesa. Esta testemunha é invalida, pois o diagnóstico foi dado há muitos anos, e todos nós sabemos que o Amor é cego! Não viu nada porque nunca viu nada.
Os jurados começam a conversar.
- Estou dizendo, sou inocente. Nunca iria divulgar tal informação se fosse falsa. afirmou Mentira.
- Você está deteriorando minha imagem. Como tem coragem? Protestou o prefeito.
- Meu advogado Verdade acredita em mim.
- Verdade é um homem ingênuo, retrucou.
- Você que acha? Verdade mente muito.
- E você? Caluniando por aí...
- Eu só falo a verdade, disse Mentira
- E como você traz ao tribunal um advogado mentiroso?
- Melhor um advogado mentiroso do que um prefeito mentiroso."

Todos na sala comentaram a provocação. Um cochicho tomou conta da sala. “Ordem, ordem!” Gritou o juiz.

- Como você é atrevido, respondeu Vaidade
- Como você é feio.
- E você com esse narigão?
- É meu charme.
- Charme tenho eu.“

De repente, um dos jurados se pronunciou. “Afinal, estamos acusando Mentira de caluniar o prefeito. Mas qual é a tal calunia?”

Um silêncio dominou a sala. Alguns minutos depois, o juiz diz:
- Esqueci. Estou com fome. Sessão encerrada.”
O juiz saiu pela ala principal.
- Isso que dá entregar um caso importante para este juiz, senhor Pouco-Caso! Disse Verdade. Bom, vou me retirar também

Um a um, todos foram se retirando. Na sala sobraram apenas Vaidade e Mentira. Fitavam-se, no silêncio. De certa forma, mentira se sentia atraída pela vaidade. O sentimento era mutuo. Vaidade se fascinava pelos longos discursos de Mentira, e por suas pernas curtas. A tensão era grande.

Nove meses depois, nasceu a primeira filha do casal, a pequena Política.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Maior Predador

2009... O ser humano é o maior predador, o topo da cadeia alimentar. Nós temos tudo, tecnologia avançada, medicina super desenvolvida, nós sabemos de nossa história e até da história do universo. Realmente fantástico. Somos seis bilhões. Não tenho nome, tenho RG. Uma maneira que o governo arranjou para codificar toda sua população.
O ser humano é o maior predador, predador dele mesmo, pois em guerras e genocídios consegue massacrar sua própria espécie. Predador por ver alguém agoniando de fome e dor e fechar os olhos. Predador do mundo, pois o destrói cada dia com mais violência.

Vamos encarar os fatos. O número mais poderoso que existe, é aquele que você quer na sua conta bancária. Por ele, a humanidade se vende, se rebaixa, extorque, chantageia, rouba, mata. E por ser tão fascinada por esta nova divindade, acabou se tratando em formas tão impessoais que deixaram de ser humanas.
Meu chefe tem nome. Meu chefe tem conta bancária. Ele me paga todo fim de mês. De que me importa seu nome? O nome dele é renda.
Meu empregado tem nome. Meu empregado tem conta bancária. Tenho de pagá-lo todo fim de mês. De que importa seu nome? O nome dele é despesa.

E é neste círculo de relações doentias que o tão glorioso ser humano vive hoje. A compaixão ficou para trás, e o amor pela vida e pelo próximo foi substituído pelo amor ao dinheiro. De que valem tantas notas, tanto papel? Fomos todos infectados por uma epidemia, e não é a gripe suína, é a cegueira. Não vemos mais a beleza do céu, as cores das flores, a alegria de ser feliz com pouco. Não vemos mais as injustiças, as desigualdades sociais, as crianças com fome.

Não vemos mais a pessoa humana que existe dentro de cada um de nós. Só não sei se nós não a vemos, ou se ela está morta e apodrecendo dentro de nossas almas. Somos sim o maior predador, pois somos os únicos que matamos à nós mesmos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Montanha-Russa

A vida impõe certos limites. É uma troca que o destino propõe: "Vá, viva do jeito que quiser, faça o que bem entender. Desfrute de cada segundo. Mas eu te dou apenas alguns anos para isso."

E apesar de nós sabermos desta condição, nós somos tolos, não desfrutamos o suficiente e ficamos bravos com o destino por termos tempo limitado. A fila de almas para conhecerem este esplendor chamado Terra é enorme. Por exemplo, você está lá na Disneylândia, em plenas férias de verão. Imagine que você está na fila por muito tempo para o brinquedo que você mais gosta. O único jeito de todos se divertirem naquele brinquedo é se cada um tiver sua chance de aproveitar, um à um, apenas por um tempo limitado.

Pois é, a vida então é uma grande montanha-russa que todos querem ir. Aproveite literalmente seus altos e baixos, subidas e decidas. Pense por esse laso, pelo menos a vida dura um pouco mais que este brinquedo. E acredite, em ambas sempre terá alguém vomitando do seu lado. É preciso ter estômago forte para enfrentar estas aventuras.

Penhasco

Apesar deste blog ser impessoal, e só colocar aqui minhas idéias e nada de concreto sobre minha vida que não envolva meus pensamentos, acho importante explicitar uma característica que revigora minha alma e consequentemente meus ideais: Eu sou jovem e inesperiente.
Como grande parte dos meus leitores me conhecem, isto não é uma revelação. Mas este fato não é uma novidade e sim uma causa para minhas aflições.

É uma época díficil. Está na hora de decidir o que você vai ser durante toda sua vida. Não falo apenas sobre a carreira que levaremos. Mas está na hora de nos colocarmos nos eixos, olhar no espelho e sabermos exatamente quem somos. Seremos preguiçosos? Mentirosos? Seremos egoístas, falsos, seremos tudo o que sempre detestamos?
Crescer é atravessar fronteiras, limites. E esse limite para mim é um precipício. E o tempo está me empurrando, e ele é forte, por mais que eu lute, sei que a queda é inevitável.

Óbvimente, nem todos os adultos são crápulas, e nem todos os jovens são idealistas. Algumas destas pequenas almas se jogaram no precipício da realidade muito antes do tempo previsto. Logo caíram na realidade, literalmente. E algumas almas com mais idade, apesar de terem sido empurradas pelo tempo, estão se segurando com todas as forças, agarradas no lugar onde elas podem sonhar alto, no topo do penhasco.

A ilusão é doce, a realidade é amarga. Mas o fato é que devemos chegar até o fim. Quem sabe a queda não será tão dolorosa, e você encontrará um lindo vale lá embaixo. Basta uma decisão: Está na hora de crescer?
E devo confessar que eu simplesmente odeio o fato de não poder ser jovem para sempre por ter medo de pular e quebrar a cara.


sábado, 8 de agosto de 2009

Post imortal

Eu sempre tive pavor da morte. Cada religião propõe uma certa continuação, mas a verdade é que a idéia de abandonar este mundo me dá calafrios. Medo da solidão, do incerto, e para ser franca, da verdade. Logo eu, que crítico tão severamente este mundo e os habitantes dentro deles.
Bem, devo adimitir que sou uma pessoa muito paradoxal. Mas tudo tem no mínimo dois lados. Então vamos começar pela parte boa de termos nossas vidas limitadas pelo tempo. A primeira é: vamos concordar, ser imortal pode facinar muitos dos grandes heróis e vilões; mas qual a graça de ser imortal e ver todas as pessoas que você ama indo embora? A unica imortaliade que desejo é a dos meus pensamentos, dos meus atos... Quero deixar meus rastros por aqui. E para deixar rastros, você deve ir embora.

Óbvio que a dor é um certo impasse. Mas a dor só nos deixa mais fortes. Aqui na vida pelo menos é assim. Qualquer momento doloroso é terrível, mas a força que fazemos para superar qualquer perda é algo incrível. Se ler é um exercício para mente, e esporte para o corpo, sofrer é um exercício para alma.

E o mais importante na vida não é superar seus medos. Medo não se supera. É decidir que algo é mais importante que esse medo, e que vale apena enfrentá-lo. Nunca vou superar o medo da morte. Mas quando ela chegar, vou olhá-la diretamente nos olhos. Só irei entender minha vida quando ela chegar ao fim. Não que eu esteja anciosa para desvendar este mistério, muito pelo contrário. O fato da vida acabar torna-a muito mais interressante. Mas para ser imortal, seria preciso no mínimo de um bom anabolizante, afinal niguém é tão forte assim.