terça-feira, 26 de setembro de 2017

Guardado no armário - o sorrido quer sair do armário

Hora de tirar aquele velho sorriso do armário que lhe cai tão bem. É singelo, um pouco opaco, mas lhe cai bem. Os dentes um pouco tortos, por vezes amarelados. Mas são seus. E o conjunto lhe cai bem. O lábio é fino, mordido, usado. Mas adivinhe só? Lhe cai maravilhosamente bem.

Guarda aquele outro esquisito. Faz um barulhinho assim ó: "xiiiis". É chato, estridente. Vulgar. Um tédio.

Aquele lá que você guardou no armário e não tem usado pode até ser menos formoso. Mas adivinhe só? Lhe cai bem melhor.

Suor

Pelo caminho vou colecionando momentos. Seguro com força para sentir na pele cada detalhe. Há de se convir que a fórmula é agradável quando se tratarem de doces lembranças. Mas não se engane, existem momentos pesados, densos, obscuros, que por mais que a mão se abra ficam eles lá grudados na pele. Como suor seco, grudento, só que com cheiro de lágrima. Salgado.

Por vezes nos pregamos um peça e largamos ao longo do caminho boas lembranças. Sem querer, de maneira negligente, escorre como mel marcando os anos, diluindo-se num complexo de fatos a que se convencionou chamar de vida. Logo a vista não mais os alcançará, já que a marcha não caminha para trás para buscá-los.

Mas estes momentos que salgam a pele, ah meu amigo, estes ficam. E quanto mais o caminhante percorre o seu caminho, mais o corpo fica denso e sujo das memórias mal-amadas que insistem em ficar.

Chegado um determinado momento da jornada é inevitável: hora de lavar-se. Em bom e claro português: amigo, vá tomar banho. Ninguém aguenta mais teu cheiro de tristeza.