Chega. Quero sair. Quero usar sapatos azuis e não vermelhos, quero fazer curvas em vez de andar em linha reta, quero outra vista, outro vento, outra direção. Outro sol, outra lua, outro universo. Só quero conservar os mesmos olhos, para poder ver tudo na mesma perspectiva, a perspectiva de alguém que mudou.
Mudar não. Mudança é trocar de roupa, trocar de carro, trocar de namorado ou até de casa. Mudança é troca. Eu quero uma página em branco. Poder refazer as linhas diretivas da minha vida, mas com o último desenho, mesmo que inacabado, pendurado na parede
Recomeçar; de sapatinhos azuis, porque sou vaidosa. Estava tudo errado. A música estava riscada, a comida fria, os sonhos eram apenas enfeites.
Pelo direito de ouvir novos risos, novos sons, novos gritos de aflição, novos hinos de guerra, novos "Eu te amo", novos "Que horas são?", novos "Você está completamente maluca".
Pelo direito de comer novos ovos mexidos, novos sabores, novos beijos e novos venenos, novos sabores de você em meus lábios.
Pelo direito de sonhar de novo, sonhar de verdade. Sonhar com novos sonhos. Sonhar com o diferente. Viver sonhando e sonhar com que estou vivendo.
Pelo direito de recomeçar. Vou gritar até me ouvirem. Vamos juntos, na nova passeata da vida, nas novas perspectivas, nos novos sonhos, nos novos ovos mexidos.
Pelos sapatos azuis.
Contra o certo que não é errado mas que não é ideal.
Contra o medo do inviável.
Pelo infinito, pelo impossível.
Pelo novo sentido, pela sensibilidade dos loucos, e a normalidade do delírio.
Vamos. Nada de meia-volta no caminho de tijolinhos dourados. Meia-volta é mudança, não recomeço. Crie asas, e venha atrás de mim, até que o brilho do ouro do caminho antigo seja apenas mais uma estrela no céu do nosso novo universo.