domingo, 30 de agosto de 2009

Berço de Ouro

O tribunal estava silencioso. Todos haviam chegado: os jurados, advogados, e o próprio meritíssimo. A ré estava atrasada. De repente que se abrem as portas do tribunal e chega a acusada.
“- Desculpe-me seu juiz, tentei correr, mas minhas pernas são muito curtas, acabei não conseguindo chegar a tempo.
-Estás desculpada. Sente-se. Devemos prosseguir com este processo.”

A ré, senhora Mentira era acusada de caluniar o prefeito da cidade, senhor Vaidade. Seu advogado de defesa chamava-se senhor Verdade. O processo começou.
“-Isso é um absurdo! Eu?! Perdendo a compostura deste jeito? Isso é um absurdo. Repetia senhor Vaidade. Eu nunca cometeria uma desavença deste nível!
-Pois eu vi. Vi tudo.Respondeu a ré.
- Ah então que suba minha testemunha disse Vaidade. “Ela não viu nada”

Entrou o Amor. Todo largado, descabelado, rastejou até a cadeira para dar o testemunho. Usava um belo par de óculos, com as lentes mais grossas que um polegar.

- Jura dizer a verdade? Prosseguiu o juiz.
- Juro.
- Senhor Amor, o senhor viu alguma coisa? Interrogou Vaidade.
- Eu? Eu não vi nada.
- O senhor me viu cometendo tal delito?
- Não vi nada não. Disse a testemunha.
- Protesto! Disse o advogado de defesa. Esta testemunha é invalida, pois o diagnóstico foi dado há muitos anos, e todos nós sabemos que o Amor é cego! Não viu nada porque nunca viu nada.
Os jurados começam a conversar.
- Estou dizendo, sou inocente. Nunca iria divulgar tal informação se fosse falsa. afirmou Mentira.
- Você está deteriorando minha imagem. Como tem coragem? Protestou o prefeito.
- Meu advogado Verdade acredita em mim.
- Verdade é um homem ingênuo, retrucou.
- Você que acha? Verdade mente muito.
- E você? Caluniando por aí...
- Eu só falo a verdade, disse Mentira
- E como você traz ao tribunal um advogado mentiroso?
- Melhor um advogado mentiroso do que um prefeito mentiroso."

Todos na sala comentaram a provocação. Um cochicho tomou conta da sala. “Ordem, ordem!” Gritou o juiz.

- Como você é atrevido, respondeu Vaidade
- Como você é feio.
- E você com esse narigão?
- É meu charme.
- Charme tenho eu.“

De repente, um dos jurados se pronunciou. “Afinal, estamos acusando Mentira de caluniar o prefeito. Mas qual é a tal calunia?”

Um silêncio dominou a sala. Alguns minutos depois, o juiz diz:
- Esqueci. Estou com fome. Sessão encerrada.”
O juiz saiu pela ala principal.
- Isso que dá entregar um caso importante para este juiz, senhor Pouco-Caso! Disse Verdade. Bom, vou me retirar também

Um a um, todos foram se retirando. Na sala sobraram apenas Vaidade e Mentira. Fitavam-se, no silêncio. De certa forma, mentira se sentia atraída pela vaidade. O sentimento era mutuo. Vaidade se fascinava pelos longos discursos de Mentira, e por suas pernas curtas. A tensão era grande.

Nove meses depois, nasceu a primeira filha do casal, a pequena Política.

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